Pages

8.9.14

Insolúvel

Eu viajo em todas as palavras que conheço para ver se uma delas me dá carona a um lugar legal. Um lugar longe de você.
Não me permito correr sozinha, seria desgastante demais perder tantos quilômetros pensando em uma possível solução, sou planejadora do meu próprio futuro, mesmo que hajam pedras colossais nas passagens que eu esculpir.
Roer minhas unhas pode me dar até um estalo de agonia que me levará a algum caminho, alguma estrada que se abre em forma de solução ou escudo a cada vez que arranco as pontas das minhas unhas e as vejo sangrar. Se não isso, consigo traçar um caminho desenhado a sangue, que corre rápido e seca aos poucos, em pouco tempo, restando apenas fragmentos de mim mesma entre meus dentes. Sou forte e dura, mesmo vertendo mil lágrimas pelos olhos, meu choro é duro e tenho que colocar minhas mãos no fogo para que as lágrimas derretam e saiam sem machucar tanto, são pedras de gelo guardadas dentro de mim.
Além das lágrimas que congelaram por si só, você conseguiu congelar o resto do meu coração que já perdia o calor. Ultimamente ele não bate no ritmo doce que batia antes, há mais ou menos uns 10 anos, o tempo em que eu sonhava acordada com o amor parecido com o seu, que afinou as batidas e as fez parar.
Dificilmente vai haver um músico que me ensine a entrar no ritmo ou maestro que conduza uma sinfonia tão triste como a minha.
Sou forte e dura, eu sei, consegui desligar a tristeza de mim. Pelo menos a que você inspira. O mundo é muito grande e minha vida ainda está começando, mesmo que eu não possa mais te abraçar. Há muitas coisas para serem descobertas neste planeta, ainda há muito que me faça maravilhada, mesmo que não seja você.

4.9.14

Queime as minhas páginas

Burned_Pages___Autodafe___by_SoRealMacroRemi Minhas páginas vão queimar, sim. 
Elas vão cozinhar e ser consumidas, 
como os dias que já passaram na minha vida, 
na minha superfície. 

Minhas histórias serão lidas e relidas 
 nenhum dia irá se passar 
como os dias que se passaram por mim, 
dos ventos que eu senti, 
do sol que me esquentou. 

As palavras das minhas histórias já foram lidas, 
você já as leu, você já as desvendou. 
Mas não se esqueça de queimar tudo depois, 
e falar para mais outros e outros. 

 Não deixe provas, 
prove por si mesmo 
o que eu consegui provar pra mim 
nos dias em que vivi. 

Fale as palavras em voz baixa, 
e se houver dificuldade de entendê-las grite bem alto, 
porque assim elas persistirão 
nos ouvidos de outras pessoas. 

 Divida. 

Tudo, ou seu nada, apenas divida. 
Porque eu estou dividindo o que tem no meu livro, 
meu hoje meu ontem 
e quem sabe meu amanhã, 
até quando houver um. 

Você vai nascer e eu estarei aqui. 
Vai morrer e meus passos 
terão passado pelos mesmos lugares que os seus. 
Vou repetir mil vezes as palavras, 
mas ninguém ouvirá minha voz de fato.

5.8.14

Preciso de um chá de esquecimento


Músicas lembram momentos
que lembram pessoas
que lembram…

Lembrar é uma função triste do nosso cérebro
que nos leva para o passado
nos carrega pra um lugar frio
que dói no peito
toca na pele como um arrepio
traz noite pra o sol brilhando
cegando nossa mente
pra o resto do mundo.

Não tem beijo que anime
não tem alegria que expulse
toda a dor que a lembrança carrega
ou toda a felicidade morta
que não teremos mais.

 Sentir é quase sinônimo de chorar
porque o tempo levou os outros sentimentos
junto com o momento vivido
e a única coisa que sobra é a saudade menina
segurando na nossa mão,
com as feições de algum amor
como uma filha pra criar.

26.5.14

Em gotas

Não consigo.
Vou me fazer de difícil, vou me virar de lado e suspirar. Tudo isso para fazer de conta que não quero.
Meus olhos talvez não consigam esconder, mas para minha sorte, você não será capaz de lê-los; porque crianças não possuem malícia suficiente para entender os desejos na alma de uma mulher.
Negarei em toda pergunta o que você espera por confirmação do que sinto, desde um simples SIM ou qualquer outra oportunidade de tocar meu corpo, porque quando você me toca deixa as gotas venenosas do seu cheiro. E AH! Que veneno!
Me odeio, mas amo.
Pois mesmo negando todos os segundos, mesmo não deixando que minha pele seja alcançada por seus dedos, vou acabar mergulhando no mar que transborda dos seus olhos, que me encaram pedindo para ceder.
E eu cederei.
Não cederei pelo mérito da insistência, sou incansável e paciente, nem tudo me toca. Mas vou me deixar cair ao seu lado em qualquer nuvem de um dia abafado e me derramarei em gotas de chuva, quando lá do alto, nossos corpos forem um nimbo pesado que quase toca o chão.
 

A mosca da sopa

A mosca voa pra lá
mas não sabe se vai voltar pra cá.
Vive zonza e órfã de juízo
buscando motivos pra viver,
aqui, ali, acolá.
A menina mosca para e olha ao redor
pra ver o vazio dos homens sem amor,
olha com seus muitos olhos e não consegue enxergar
a verdade do mundo que a vida deveria mostrar.
Alguém então disse:
“Vai mosca danada, para de zumbir,
que teu canto desafinado não é bom de se ouvir.”
“Uma pena. Sem Dúvida.
Porque eu adoro cantar com essa minha voz de criança
que um dia vou afinar.”
Vai mosquinha, pôr teus ovos em outra vizinhança
porque tua semente não vai brotar cá.
Cá onde ninguém dança
e nunca vai aprender a amar.