Ela escrevia sem parar e não sabia como era o mundo de
verdade, pois inventava mundos. E vivia só conversando consigo mesma e com o
Deus no qual ela tanto tinha fé.
Era uma vida esquisita, marcada pela passagem e abandono de tudo que encontrava em seu caminho, de forma incrível,
sabia se livrar involuntariamente das coisas e das pessoas que estavam à sua
volta, e percebia isso, mas não conseguia entender como.
Algumas vezes, algo em sua mente lhe dizia por que fulano ou
cicrano a deixou de lado, disso não se dava conta facilmente, demorando algumas vezes
a perceber, e quando alguma coisa lá de longe a fazia suspeitar, ela não dava
atenção deixando pra lá, tendo como resultado menos um em sua vida.
Alguns ditados dizem algo sobre quando ficamos mais
velhos, ficamos mais espertos e vividos, mais cheios de experiências e pessoas
nas nossas vidas, no caso dela isso parece não se aplicar, parece não ter
efeito. A história da vida dela é sem resultado para ela mesma que tem ilusões de
possuir o mundo tão perto do seu alcance, tendo na verdade, apenas papeis e
canetas que vão escrever mais um sonho em vão.
Comete os mesmos erros várias vezes e sem ser digna de perdão
é perdoada. Porque há algo nela que aflora um misto de pena e revolta, algo
como uma tristeza que não tem cura, nos olhos e no sorriso dela um
pedido de socorro “por favor me ame, amo você gratuitamente, amo a
todos”.
Falta algo nessa menina, moça, mulher, seja lá como for, uma
força de viver e de se defender na qual nunca na vida tentou ter, só vivendo no
que ela acha ser humildade. Desde quando era muito pequena e aprendeu que
existiu um homem que morreu por amar as pessoas, e mais tarde, outro homem amou
o amor que não era amado, ele dizia que preferia apenas amar do que ser amado e
morrendo que se vive..
Nunca foi heroína de um feito grandioso, nunca foi elogiada
por ser boa em algo, se é que já foi boa em algo, sabe-se que era boa em rir de
si mesma na escola, porque achava que esse era o único jeito de ser aceita
pelas pessoas, e no pensamento dela, sempre há um jeito - é só ter vontade.
Quando a vi, entendi que ela tem uma criança irresponsável
tomando conta do espaço da sua mente, porém seu corpo quer gritar o contrário,
mas seus gritos são abafados pela voz doce e infantil. Ela precisaria viver
infâncias e juventudes até cansar de rir e brincar, até abusar e dizer “não
quero mais isso” Então assim, aqui ou ali as coisas vão se corrigindo, ela não
vai ter mais vontade de chorar assustada com a cara feia das pessoas, nem vai
mentir com medo de apanhar e não vai mais imaginar mil coisas ruins com
espíritos, demônios e monstros quando estiver sozinha no escuro.
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