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29.9.11

Sozinha no escuro


Ela escrevia sem parar e não sabia como era o mundo de verdade, pois inventava mundos. E vivia só conversando consigo mesma e com o Deus no qual ela tanto tinha fé.
Era uma vida esquisita, marcada pela passagem e abandono de tudo que encontrava em seu caminho, de forma incrível, sabia se livrar involuntariamente das coisas e das pessoas que estavam à sua volta, e percebia isso, mas não conseguia entender como.



Algumas vezes, algo em sua mente lhe dizia por que fulano ou cicrano a deixou de lado, disso não se dava conta facilmente, demorando algumas vezes a perceber, e quando alguma coisa lá de longe a fazia suspeitar, ela não dava atenção deixando pra lá, tendo como resultado menos um em sua vida.
Alguns ditados dizem algo sobre quando ficamos mais velhos, ficamos mais espertos e vividos, mais cheios de experiências e pessoas nas nossas vidas, no caso dela isso parece não se aplicar, parece não ter efeito. A história da vida dela é sem resultado para ela mesma que tem ilusões de possuir o mundo tão perto do seu alcance, tendo na verdade, apenas papeis e canetas que vão escrever mais um sonho em vão.
Comete os mesmos erros várias vezes e sem ser digna de perdão é perdoada. Porque há algo nela que aflora um misto de pena e revolta, algo como uma tristeza que não tem cura, nos olhos e no sorriso dela um pedido de socorro “por favor me ame, amo você gratuitamente, amo a todos”.
Falta algo nessa menina, moça, mulher, seja lá como for, uma força de viver e de se defender na qual nunca na vida tentou ter, só vivendo no que ela acha ser humildade. Desde quando era muito pequena e aprendeu que existiu um homem que morreu por amar as pessoas, e mais tarde, outro homem amou o amor que não era amado, ele dizia que preferia apenas amar do que ser amado e morrendo que se vive..
Nunca foi heroína de um feito grandioso, nunca foi elogiada por ser boa em algo, se é que já foi boa em algo, sabe-se que era boa em rir de si mesma na escola, porque achava que esse era o único jeito de ser aceita pelas pessoas, e no pensamento dela, sempre há um jeito - é só ter vontade.
Quando a vi, entendi que ela tem uma criança irresponsável tomando conta do espaço da sua mente, porém seu corpo quer gritar o contrário, mas seus gritos são abafados pela voz doce e infantil. Ela precisaria viver infâncias e juventudes até cansar de rir e brincar, até abusar e dizer “não quero mais isso” Então assim, aqui ou ali as coisas vão se corrigindo, ela não vai ter mais vontade de chorar assustada com a cara feia das pessoas, nem vai mentir com medo de apanhar e não vai mais imaginar mil coisas ruins com espíritos, demônios e monstros quando estiver sozinha no escuro.