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15.4.10

Tanto

Nunca pensei tanto em ninguém, nem em mim mesma.
Nem nunca tive tanta raiva de alguém.
Talvez seja porque vivo confusa e contente com o que nós temos.
Ou será que só eu tenho?
As vezes eu tento te forçar a provar que você também tem.
Você tem? - Olha eu de novo...
Não ligue, eu não quero que você se sinta pressionado. Apesar de não ser do fundo do coração isso...
Eu tento. Juro.
E morrerei tentando te mostrar uma forma de como se derreter por mim. 
Mas sei que vc não está olhando, que você não prestará atenção nisso...
O que, de diferente, você sente aí dentro? Ou de igual?
Se quiser me mostrar, abre mais um pouco, porque fechando o peito desse jeito, não consigo ver o que tem no seu coração.
Sabe? Se eu pudesse ver, queria ver um espelho dentro dele. Que me refletisse toda vez que eu olhasse..
Estou mal acostumada com seu cheiro, quase viciada, querendo mais e
mais..
Queria te abraçar agora...
lembra? Quando eu estiver triste, simplesmente me abrace...
Isso é errado?
Estou errada em querer uma coisa que você nem precisa me pedir?

Queria jogar tudo o que sinto, e principalmente minhas vontades, no
vento. Pra não precisar mais ... (acabaram minhas palavras, desculpe)

13.4.10

Voando

Não consigo trazer mais que um milhão de palavras, mas as mais fortes me carregam no colo.
Enquanto eu penso elas pegam na minha mão e amarram minha mente.
Isso para que eu não dê a luz à outro milhão de palavras, se isso acontecer, saio do caminho que já estou com as outras.
Longe, eu sei.
Eu vou longe demais com elas mas, e daí?
É tudo o que quero, estar a milhões de quilômetros daqui, longe demais para sentir a textura grosseira dos pés no chão.
Assim eu vôo.
Para isso devo só fechar os olhos e me concetrar no silêncio.

7.4.10

You're terrible late menina!

Querido diário,

Eu sou uma desocupada.
Sei que isso é normal, essa coisa de ficar uma ou duas vezes com a vida na mão sem ter o que fazer dela, mas no meu caso, quando não há obrigações há um tal de ócio.
Sim. O ócio.
Mas se todo o meu tempo de ócio me desse algum proveito eu até que gostaria dele, faria dele um passatempo legal sabe? Eu me casaria com o ócio se fosse assim.
Meu ócio tem as pernas curtas pra ficar sentado, ou se possível dormindo. Não anda, não me leva a lugar nenhum, anão chato! Então ele nem tem como vestir calças e um paletó pra se casar comigo.

Ai diário..
Se você soubesse de outra coisa que o meu ócio me traz, outra que eu não gosto, é da minha imaginação desviada.
É. isso mesmo. IMAGINAÇÃO DES - VI - A - DA.
Ela é outra que me faz ficar parada nos cantos pensando besteira. E é tão pesada... Essa gorda!
Uma anãzinha chata que não larga do meu pé, sopra umas coisas que ficam empregnadas na minha cabeça e só sacudindo elas caem no chão.

Preciso pegar na mão de uma obrigação de novo. Quem sabe ela me leva pra lugares interessantes? Ou então ela me apresenta uma forma de dieta e crescimento pra minha imaginação?
Seria ótimo, porque, tenho certeza, ela me levaria pra andar de novo no caminho dos tijolos amarelos e daí eu não teria que me encontrar com nenhum coelho me dizendo que estou atrasada, atrasada demais pra estar aqui parada sem fazer nada...

Ai se a Rainha de Copas me pega! Perco a cabeça...

4.4.10

Criança de novo

Eu estava lá, sentada cheia das minhas tarefas.
Não havia mais ninguém, estava sozinha, não que me sentisse bem nessa situação, mas quando agente é adulto, agente tem que ser adulto.
Isso me consolava bastante, apesar do meu medo de escuro, havia muito trabalho a fazer.
De repente, senti uma presença diferente, sobrenatural. Apesar de morrer de medo de tudo isso, naquele momento, nenhum tipo de medo chegava perto de mim. E tenha certeza, medos são minhas companhias, e as vezes até pegam na minha mão, eu corro e e choro, até suar.
Senti que ela não vinha acompanhada de medos, tinha ao redor algo que fazia rir, uma fumacinha e cor neon. Era criança, e eu nos meus saltos e decote, me senti criança também. Olhando pra ela, me vi no reflexo do  computador, laço de fita e cabelos cacheados. Vi em mim muito do que não esquecera há tempos, mas tinha medo de mostrar. Algo que nunca deixei de ser.
Pelo andar da história já se viu que era uma menina. Loira, magrela, aparentando seus 10 anos, que se escondia nas quinas das paredes pra não ser vista, ou para chamar pra brincadeira. Não sei ao certo. Só sei que escolhi pular da cadeira, agora alta pra mim, e sair correndo como nunca mais tinha feito.
Entre as colunas de um salão, brincamos de esconder. Num canto da parede, tinha uma mesa com louças minúsculas que chamavam para um chá.
Era tão lindo, tão diferente.
Eu não pronunciei uma palavra, mas ouvia e via pessoas estranhas chegando o tempo todo.
De repente veio a música, e com ela a alegria, o cheiro do suor e os passos das pessoas dançando.
Um estrondo soou, a música parou e uma voz chamou meu nome. Parecia uma bruxa, que depois de milênios de maldade e gritos horrorosos, esqueceu como era a voz humana e tomou como um arranhão o som de sua voz.
Meus ouvidos doíam, e então levantei da cadeira.
Olhei ao redor e vi uma sala branca, vi meu computador e vi um sorriso falso. Pedi mais um minuto e caí tonta na cadeira. A garota saiu correndo e atrás da parede vi seu vestido voando.
Um laço de fita se soltou para que eu percebesse. O chá foi real.

24.3.10

A caneta

Entrou no quarto e trancou a porta.
Se escorou, e a parede a ajudou a segurar o peso que estava em seus ombros.

A bolsa, que ainda não havia largado, guardava o peso maior do que acabara de cometer, de dentro dela algo muito forte e doloroso saía, um cheiro enjoativo do qual ela tinha há pouco se familiarizado.

-Quanto sangue. Meu Deus...

Não sabia ao certo o que sentir, porque o vazio tomara conta dela desde o instante em que desferiu o primeiro golpe no tórax de sua vítima. Ela forçava seus braços a empurrar aquela caneta conta o lugar exato do coração que deixou de amá-la. Ele já estava morto há muito tempo, mas apareceu o impulso de ferí-lo de alguma forma.

Então, a caneta.

E depois, a vontade maior e maior de fazê-lo acordar para pedir perdão por matá-lo desse jeito. Ela não deveria, não queria, mas impulsos não pedem, não perguntam. Simplesmente acontecem. A ferocidade com que ela fez aquilo, foi tanta que  a fez desmaiar ao lado daquele corpo sem vida, desde a primeira gota de veneno.

Acordou desejando ter tido um pesadelo, mas na verdade, estava encharcada com o sangue dele.

Levantou-se num grande susto, e desde então, tem feito as coisas assustada.

Banhou-se, esfregou o corpo com o pequeno sabonete de motel, como se quisesse tirar de si a mancha da culpa do que fizera, quase arrancando a própria pele.

Se recompôs e saiu do quarto como se nada tivesse acontecido, seu disfarce era irreconhecível, uma máscara de tranquilidade assustadora, de um monstro que, segundo ela, acabara de nascer.
Expulsou as lembranças e foi limpar a caneta, lavou-a e enxugou. Junto com a água suja do ralo foi sua culpa, nada provaria que foi ela, em sua irracionalidade, ela estava livre de pagar por aquilo.

Dias se passaram.

A investigação daquela morte já estava quase encerrada porque não se sabia quem era a mulher que saíra do quarto, o disfarce era perfeito, as câmeras não revelariam a verdade.
Como de praxe, todas as pessoas próximas à vítima foram chamadas para depor. Ela também foi chamada, sua aproximação era tão óbvia, que a esposa dele já não se importava mais. Todos sabiam que ela era só uma dentre várias.

Na porta de delegacia, um tremor tomou conta de seu corpo, mas seguiu em frente. Lá dentro o delegado a fez esperar, ficou por último.
Ela se saiu tão bem, que sorria ao ver a crença do delegado em sua mentira.

- Tudo bem, minha senhora, agora só falta assinar seu depoimento. Vejo que não há nada mais que deva fazer aqui.

Pegou a caneta que o delegado deu, mas só conseguiu rabiscar a primeira letra do nome, a caneta falhou. Ninguém conseguia encontrar outra caneta, então ela abriu a bolsa e pegou uma caixinha oval revestida com um veludo preto. Ali jazia uma certa caneta, da qual ela não ousava se livrar. Um golpe de reflexo a fez pegá-la sem pensar em mais nada, como se ela realmente não tivesse feito nada com a caneta.
Mas esta também falhou e, o delegado se ofereceu para consertar a caneta pois, segundo ele, já tinha tido uma igual.

No mesmo instante, ela lembrou-se do medo de ser reconhecida como assassina, e empalideceu. Entregou a arma, e o que a incriminava estava nas mãos dele.
O delegado sem notar, abria a caneta explicando:

- Eu já tive uma dessa; cara não é? O problema...

Dentro dela se revelou a culpa. Um pequeno aglomerado de sangue coagulado estava preso na caneta.
O delegado reconhecia sangue em todas as suas formas e reconheceu também a mentira. Juntou peças e o quebra cabeças se completou.

Ela sentiu o gosto da morte naquele naquele instante.

7.3.10

Copia de mim

Quem sabe quando eu tomar coragem e encarar o escuro, haverá alguém lá sentado no escuro esperando para conversar comigo.
E aí ele me ouviria e me ajudaria a mudar.
Mas isso parece tão impossível quanto desafiar meu medo de altura.
Queria que houvesse alguém ou algo que não me deixasse sentir quando uma mágoa viesse andando e parasse do meu lado.
Ele talvez poderia ser Deus disfarçado de homem, pra pelo menos, me dar alguns conselhos. Pois não quero respostas à perguntas muito difíceis, nem quero mágica, só quero alguém que possa ser uma cama de plumas para minhas quedas.
Não consigo me adaptar à dificuldade que eu tenho em viver neste mundo, percebi o quanto sinto doer quando não posso revidar coisas. Dói engolir as raivas e as tristezas, principalmente quando vejo que elas são causadas por motivos injustos.
Nem sempre a dor que sinto é sentimental.Algo dói dentro do meu peito, dói de verdade, mas sei que não há nenhuma doença.
Talvez essa pessoa poderia ser eu mesma, cópia de mim, ou melhor, poderia ser uma divisão. Só uma parte ficaria em mim, a outra ficaria na segunda eu. Então eu poderia sentir alguém me completar.
Então, se a eu magoasse ou entristecesse, todas essas coisas seriam inválidas, porque seriam comigo mesma.
Todos os segredos, alegrias e tristezas também, sempre eu teria com quem dividir, e ao mesmo tempo todos ficariam guardados comigo.
Seria muito mais fácil lidar com a vida.
Seria menos triste essa coisa de viver.