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26.5.14

Em gotas

Não consigo.
Vou me fazer de difícil, vou me virar de lado e suspirar. Tudo isso para fazer de conta que não quero.
Meus olhos talvez não consigam esconder, mas para minha sorte, você não será capaz de lê-los; porque crianças não possuem malícia suficiente para entender os desejos na alma de uma mulher.
Negarei em toda pergunta o que você espera por confirmação do que sinto, desde um simples SIM ou qualquer outra oportunidade de tocar meu corpo, porque quando você me toca deixa as gotas venenosas do seu cheiro. E AH! Que veneno!
Me odeio, mas amo.
Pois mesmo negando todos os segundos, mesmo não deixando que minha pele seja alcançada por seus dedos, vou acabar mergulhando no mar que transborda dos seus olhos, que me encaram pedindo para ceder.
E eu cederei.
Não cederei pelo mérito da insistência, sou incansável e paciente, nem tudo me toca. Mas vou me deixar cair ao seu lado em qualquer nuvem de um dia abafado e me derramarei em gotas de chuva, quando lá do alto, nossos corpos forem um nimbo pesado que quase toca o chão.
 

A mosca da sopa

A mosca voa pra lá
mas não sabe se vai voltar pra cá.
Vive zonza e órfã de juízo
buscando motivos pra viver,
aqui, ali, acolá.
A menina mosca para e olha ao redor
pra ver o vazio dos homens sem amor,
olha com seus muitos olhos e não consegue enxergar
a verdade do mundo que a vida deveria mostrar.
Alguém então disse:
“Vai mosca danada, para de zumbir,
que teu canto desafinado não é bom de se ouvir.”
“Uma pena. Sem Dúvida.
Porque eu adoro cantar com essa minha voz de criança
que um dia vou afinar.”
Vai mosquinha, pôr teus ovos em outra vizinhança
porque tua semente não vai brotar cá.
Cá onde ninguém dança
e nunca vai aprender a amar.