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7.12.11

Saudades

Vivo na constante nostalgia das saudades, como se minha vida no passado tivesse um gosto melhor que a do presente.
Sinto os cheiros das lembranças que me fazem suspirar em tons profundos quando o vento sopra mais quente ou frio que o normal, não há nada melhor que o cheiro de um perfume do passado.
Mas há coisas que nunca conseguirei explicar, principalmente o fato de eu sentir falta das coisas que nunca aconteceram comigo, a saudade fora da minha vida, fora do meu destino. Coisas que são boas, as quais eu gostaria muito de viver; acho que isso é meu desejo que também sente saudade de não ter sido saciado.
Sinto saudade também do que não fiz, diferente dos meus desejos insaciados, as coisas que não fiz, são por escolha minha excluídas da minha vida, e não chamo de arrependimento, mas é a curiosidade do rumo que meu destino tomaria se eu tivesse escolhido isso ou aquilo. Algumas dessas opções talvez tivessem sido boas e tivessem me trazido mais sorrisos do que tenho hoje, ou mais lições (quem sabe?), por elas não me sinto mal, apenas curto a estrada das minhas escolhas.

E a saudade sopra no meu ouvido recordações de um passado agridoce,  me lembra que os anos não voltarão mais, sinto uma leve brisa revirando meu pensamento. Mas recordo que a curiosidade pelo meu futuro é a única coisa mais forte que minhas saudades.

29.9.11

Sozinha no escuro


Ela escrevia sem parar e não sabia como era o mundo de verdade, pois inventava mundos. E vivia só conversando consigo mesma e com o Deus no qual ela tanto tinha fé.
Era uma vida esquisita, marcada pela passagem e abandono de tudo que encontrava em seu caminho, de forma incrível, sabia se livrar involuntariamente das coisas e das pessoas que estavam à sua volta, e percebia isso, mas não conseguia entender como.



Algumas vezes, algo em sua mente lhe dizia por que fulano ou cicrano a deixou de lado, disso não se dava conta facilmente, demorando algumas vezes a perceber, e quando alguma coisa lá de longe a fazia suspeitar, ela não dava atenção deixando pra lá, tendo como resultado menos um em sua vida.
Alguns ditados dizem algo sobre quando ficamos mais velhos, ficamos mais espertos e vividos, mais cheios de experiências e pessoas nas nossas vidas, no caso dela isso parece não se aplicar, parece não ter efeito. A história da vida dela é sem resultado para ela mesma que tem ilusões de possuir o mundo tão perto do seu alcance, tendo na verdade, apenas papeis e canetas que vão escrever mais um sonho em vão.
Comete os mesmos erros várias vezes e sem ser digna de perdão é perdoada. Porque há algo nela que aflora um misto de pena e revolta, algo como uma tristeza que não tem cura, nos olhos e no sorriso dela um pedido de socorro “por favor me ame, amo você gratuitamente, amo a todos”.
Falta algo nessa menina, moça, mulher, seja lá como for, uma força de viver e de se defender na qual nunca na vida tentou ter, só vivendo no que ela acha ser humildade. Desde quando era muito pequena e aprendeu que existiu um homem que morreu por amar as pessoas, e mais tarde, outro homem amou o amor que não era amado, ele dizia que preferia apenas amar do que ser amado e morrendo que se vive..
Nunca foi heroína de um feito grandioso, nunca foi elogiada por ser boa em algo, se é que já foi boa em algo, sabe-se que era boa em rir de si mesma na escola, porque achava que esse era o único jeito de ser aceita pelas pessoas, e no pensamento dela, sempre há um jeito - é só ter vontade.
Quando a vi, entendi que ela tem uma criança irresponsável tomando conta do espaço da sua mente, porém seu corpo quer gritar o contrário, mas seus gritos são abafados pela voz doce e infantil. Ela precisaria viver infâncias e juventudes até cansar de rir e brincar, até abusar e dizer “não quero mais isso” Então assim, aqui ou ali as coisas vão se corrigindo, ela não vai ter mais vontade de chorar assustada com a cara feia das pessoas, nem vai mentir com medo de apanhar e não vai mais imaginar mil coisas ruins com espíritos, demônios e monstros quando estiver sozinha no escuro.